“Eu amo a Estrutural”, repetiram os moradores ao final do vídeo que abriu a Audiência Pública do dia 11/12. O curta, produzido no âmbito do Projeto OCA por educadores e adolescentes que estudam no Centro Educacional Sede 4 e participam das atividades de contra turno do Coletivo da Cidade, trouxe as vozes e expressões de gente que conhece de perto os desafios locais para inspirar o debate sobre políticas e orçamento público da Estrutural. A participação de jovens e adolescentes no Plenário da Câmara Legislativa do Distrito Federal foi marcante. O Deputado Joe Valle, que presidiu a Audiência, enfatizou: “Ocupem esse lugar, que é de vocês também”. O tema central foi: “a Estrutural que queremos”, com foco em políticas públicas e orçamento participativo.

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Dyarlei Viana, representante do Coletivo da Cidade e também o Fórum da Juventude Negra do DF e Entorno contou sobre sua trajetória, de catadora a pedagoga. Enfatizou a demanda por educação e respeito: “Nossa crianças não podem continuar a sofrer preconceitos quando vão estudar no Cruzeiro ou no Guará, porque não temos escolas para que continuem a formação na Estrutural. Quando sofrem bullying e são chamadas de filhos de urubu, a escola se torna um lugar hostil para elas. Elas acabam largando os estudos…”, disse a líder comunitária.

Coracy Coelho, integrante do DF em Movimento, falou sobre o histórico da participação popular na estrutural e destacou: “Somos marcados pela resistência e pela luta”, disse ele. O líder comunitário apresentou dados resultantes de processos e pesquisas participativas que contaram com a atuação de jovens e crianças moradoras. Mereceram destaque os anos de 2011 e 2013, quando ocorreu a eleição do orçamento participativo e diversas conferências locais, dentre as quais, a Conferência de Saúde e a da Criança e do Adolescente; e  quando começou o projeto OCA, respectivamente. Nessas atividades participativas foram elencadas nove áreas prioritárias para a Estrutural: 1) Desenvolvimento Econômico e Trabalho, 2) Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, 3) Transporte, 4) Habitação, 5) Cultura, Esporte e Lazer, 6) Educação, 7) Assistência Social e Direitos Humanos, 8) Saúde, 9) Segurança. E, recentemente, em uma enquete realizada com a comunidade, algumas ações prioritárias foram eleitas, dentre as quais: a regularização da feira e fortalecimento do banco comunitário, o fechamento do lixão e recuperação ambiental da área; linhas de ônibus diretas da rodoviária para Estrutural, a regularização definitiva dos moradores, a construção de um Centro Cultural Comunitário, a construção de duas escolas de ensino médio e três creches públicas, o funcionamento do restaurante comunitário no jantar, a construção de uma delegacia e o posto de saúde funcionando 24h.

A fala dos adolescentes Mateus Sousa e Ana Carolina Pereira França também marcou a audiência. Os jovens integrantes do Coletivo da Cidade focaram suas contribuições nas questões de empregabilidade e da falta de escola de ensino médio como fatores geradores de evasão escolar e violência. Ana disse, sobre o contexto de violência local: “O bandido não é bandido porque quer, é porque não aprendeu a valorizar a vida que tem e seguir o seu caminho certo. (…) Queremos mais escolas para o mudar o entendimento sobre a estrutural. Não somos “só catadores”, somos seres humanos com os mesmos direitos que todos têm. No futuro queremos ser pessoas trabalhadoras, honestas e ter uma família boa. Como a gente vai ser isso sem escolas?”. Mateus Sousa destacou que, apesar do desafio de falar em público, valeu a pena: “É muito importante vir aqui, se a gente não vier falar, não vão fazer nada pela Estrutural”.

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Em suas considerações finais o Deputado Joe Valle convidou a população a realizar um Seminário de aprofundamento sobre o Orçamento Público e demais questões prioritárias da Estrutural e ofertou o espaço da na Câmara Legislativa do Distrito Federal. Comprometeu-se a permanecer atento, sensível e aberto a lutar pela melhoria da qualidade de vida na cidade. “Juntos a gente pode dar visibilidade à organização política e às demandas locais, que podem construir uma Brasília muito melhor”.

A expectativa é a continuidade do processo de participação social e política por uma Estrutural ainda melhor. Segundo Coracy Coelho: “A audiência é  um marco. O Projeto OCA consegue chegar a esse momento já com uma consolidação das discussões. A gente começou a discutir política pública e orçamento no projeto lá atrás, e identificou a necessidade de fazer essa discussão com o governo, com as autoridades, e mostrar o nosso olhar para construir  o que vem aí, a partir da transição de governo. Para isso, precisaremos fortalecer ainda mais os canais de comunicação e participação da comunidade e aumentar a mobilização”.

Cleomar Manhas, do Nossa Brasília e do Projeto OCA, acredita que a audiência foi uma conquista do movimento social da Estrutural, sobretudo, dos jovens que contribuíram ativamente para que ela acontecesse: “Estamos desde o ano passado tentando realizar essa audiência, pois a gente queria mostrar para os meninos e meninas da Estrutural que esse espaço é deles também. Eles precisam ocupa-lo e participar das decisões sobre sua comunidade. Hoje foi um momento muito especial nesse sentido. Temos grandes expectativas de que o próximo governo se comprometa e ouça a comunidade da Estrutural e suas prioridades.”

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