Na última quarta-feira (22), a Secretaria de Cultura anunciou com alegria que Brasília será a capital Ibero-americana da Cultura em 2022. É mais uma peça do quebra-cabeça que mostra a forma de Ibaneis Rocha governar. No esforço de acharmos peças que se encaixam, algo aí faz sentido: Ibaneis quer muito mostrar o jogo que lindo ele acabou de comprar e jura que vai jogar sozinho. O fato é que é muito difícil juntar peças em desmanche. A nova gestão da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, sob o comando de Adão Candido, começa descumprindo a Lei Organica da Cultura (LOC). Além de ignorar completamente a Lei em vigor, a Secec-DF cancela de forma arbitrária o edital Áreas Culturais 2018, com pagamento previsto para este ano, com a justificativa de reformar o Teatro Nacional. Se o plano do GDF dá certo, 300 projetos que atendem todo o DF não acontecerão e 40 mil empregos deixarão de ser gerados. Em troca, um teatro no Plano Piloto, que normalmente recebe caríssimas produções não acessíveis pra população, será reformado. Nessa semana, ganhamos (se é que isso é ganhar) mais duas peças pra colocarmos no tabuleiro: o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios recebeu denúncia de superfaturamento no Aniversário de Brasília deste ano e Ibaneis Rocha assinou, na terça-feira (21), um termo de cooperação com escola de samba carioca Unidos de Vila Isabel enquanto as escolas de samba do DF não tem desfile oficial há 5 anos. No caso do aniversário de Brasília, os preços pagos em estrutura, por exemplo, como palco, som e luz, são completamente fora dos valores praticados no mercado. Independente disso, o Instituto de Produção Socioeducativo e Cultural Brasileiro (IPCB), OSC que executou o orçamento para realização do evento, teve a anuência da Secult para o pagamento de cada item. Falando em valores é inevitável não notar a diferenciação de cachês dos artistas nacionais para os locais, o que reforça a desigualdade e desvaloriza a cultura da cidade. Além disso, um recorde ideológico e racista marca a programação já que um dos palcos foi completamente dedicado a bandas gospel e nenhum espaço igualmente exclusivo foi destinado para expressões de religiões de matriz africana. É inadmissível que uma programação como essa não seja construída de forma democrática e transparente.
Já a notícia do acordo do GDF com a escola de samba carioca evidencia o completo descaso com as escolas de samba do DF: o governo se esforça para vender a cidade no maior carnaval do mundo mas não tem capacidade de envolver as suas próprias escolas nesse processo. Veja as notas oficiais da ARUC e da Acadêmicos da Asa Norte sobre o caso.
MOÇÃO DE DESABAFO
Nem sempre é facil, mas é importante lutar e não deixar que as decepções endureçam o coração!
ASSOCIAÇÃO RECREATIVA E CULTURAL ACADÊMICOS DA ASA NORTE, entende que, anteriormente a se promover a imagem de Brasilia, o GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL, tem obrigação institucional de promover a CULTURA, em todos os segmentos.
A ACADÊMICOS DA ASA NORTE vem aqui falar, pregar e lutar, mais uma vez, pela CULTURA POPULAR DAS ESCOLAS DE SAMBA DE BRASÍLIA, que não pode e nem deve ser preterida por um desfile da Escola de Samba UNIDOS DE VILA ISABEL, cuja apresentação só será vista pela televisão.
Há cinco anos – 4 no Governo Rollemberg e 1 no atual Governo – as Escolas de Samba do Distrito Federal são esquecidas e desprezadas pelas Administrações, que embora obrigadas por lei – LEI DO CARNAVAL – não promovem o Desfile, sob argumentos frágeis e diversos!
NADA CONTRA A ESCOLA DE SAMBA UNIDOS DE VILA ISABEL, MAS TUDO PELAS ESCOLAS DE SAMBA DE BRASÍLIA!
J.L.L. JANSEN de Mello Presidente
Nota Oficial
A Diretoria da ARUC estranha a ausência das escolas de samba de Brasília na solenidade de assinatura do convênio do GDF com a Unidos de Vila Isabel, com vistas ao Carnaval de 2020, para a qual não foram convidadas.
Mais do que isso, a ARUC estranha o fato das escolas de samba de Brasília e a própria Uniesbe terem sido totalmente marginalizadas desse processo, não tendo sido consultadas ou sequer informadas do projeto, ao contrário do que aconteceu em 2010, nos 50 anos de Brasília, quando a cidade foi enredo da Beija-Flor de Nilópolis e as escolas de samba de Brasília participaram de uma Comissão, com outros segmentos do governo e da área cultural de Brasília, que acompanhou todo o processo, inclusive com visitas periódicas à Beija-Flor e com a realização de uma eliminatória de samba-enredo em Brasília, na ARUC, da qual participaram compositores da cidade, classificando 3 sambas para participar da disputa na quadra da Beija-Flor.
A marginalização das escolas de samba de Brasília desse processo agora com a Unidos de Vila Isabel é um desprestígio para as entidades carnavalescas da cidade.
A ARUC, na condição de mais antiga escola de samba de Brasília, de maior campeã do Carnaval da cidade e de Patrimônio Cultural Imaterial do DF estranha, também, a declaração do Secretário de Cultura, Adão Cândido, de que a reestruturação das escolas de samba em Brasília é incipiente, e reafirma que, mesmo sem a realização do desfile das escolas de samba nos últimos 5 anos, têm feito sua parte para manter viva a bandeira do samba e do Carnaval, mesmo sem apoio do GDF e da Secretaria de Cultura, com atividades esportivas, culturais, carnavalescas e comunitárias, de janeiro a janeiro, e espera ser consultada previamente sobre a participação da Vila Isabel na organização do Carnaval de Brasília.
Nós, mais do que ninguém, conhecemos os problemas, as dificuldades e as necessidades das escolas de samba de Brasília, achamos importante o intercâmbio com as escolas de samba do Rio de Janeiro, mas não abrimos mão de participar ativa e diretamente desse processo de reconstrução do Carnaval de Brasília.
Queremos ser parceiros nesse processo porque temos certeza de que temos contribuições importantes a dar, com base na nossa experiência e nos nossos 58 anos de história, onde sempre fizemos parcerias e intercâmbios com nossas co-irmãs cariocas.
Não podemos e não aceitamos ser colocados à margem desse processo em respeito à nossa história.
Brasília, 21 de maio de 2019
Moacyr Oliveira Filho
Presidente da ARUC
Foto: Brasil 247 - Desfile no Ceilambódromo em 2012
Governador, não esqueça que esse jogo não é Paciência pra você dar as carta pra si mesmo. Você não foi eleito pra jogar só.