“Pelas marginais os pretos agem como reis
Gostar de nós tanto faz, tanto fez
Me degradar pra agradar vocês? (nunca!)
Porque eu não falei eles pensam que eu não sei”
Cores e Valores – Mano Brown
Raça e renda por região administrativa: esse é o mapa que abre a nossa publicação Mapa das Desigualdades 2019. O resultado não surpreende para quem leva em conta o papel constituinte que a escravidão tem em nosso país. No Distrito Federal, como em outras cidades brasileiras, as regiões mais negras são também as de menor renda. Por isso, não faz sentido falar em enfrentamento das desigualdades sociais sem falar também de enfrentamento do racismo estrutural, já que aqueles/as que se encontram na base da pirâmide não são corpos abstratos, mas corpos informados pela raça.
Se pensarmos que o enfrentamento das desigualdades é tarefa do poder público, as regiões de menor renda deveriam ser melhor providas de políticas e equipamentos públicos, criando uma rede de proteção social para a população mais vulnerável. A lógica da cidade capitalista, no entanto, é a inversa. Os dados da PDAD nos mostram o que já sabemos na prática: regiões como Lago Sul e Norte, Plano Piloto, Sudoeste e Park Way as mais ricas da capital, são também as melhores equipadas e também as mais brancas. Trata-se de um círculo vicioso, de manutenção de uma desigualdade pandêmica.
Na série de textos que começamos a compartilhar hoje, vamos analisar as desigualdades constituintes do Distrito Federal, partindo desse cruzamento de raça e renda. Essas assimetrias tem impacto profundo no contexto de pandemia que estamos vivendo agora: elas nos contam também quem tem condição de se proteger do vírus e quem está lidando em seu cotidiano com a perversa escolha entre se arriscar morrer de vírus ou de fome. Se a pandemia não criou as desigualdades, ela joga na nossa cara a urgência que temos de enfrentá-las.
*O título Cores e Valores é uma referência ao álbum e a música do Racionais MC’s, Cores & Valores, de autoria de Mano Brown, lançado em 2014.