Cidade para quem: : escolas sem muros

 

 

A Escola Centro Educacional Darcy Ribeiro, situada no Paranoá, é uma das mais abertas que conheci aqui em Brasília. Apesar dos muros semelhantes a todas as outras, os profissionais que lá atuam, perceberam a importância de estabelecer diálogos com a comunidade do entorno e assim o fazem.

A organização também é de admirar, pois a comunidade escolar utiliza sua criatividade para angariar recursos e resolver necessidades da escola, que tem biblioteca, laboratório de internet, boas instalações, boa alimentação e acima de tudo – muito carinho e envolvimento das pessoas que ali trabalham e estudam.

O Inesc tem parceria com o Darcy há pelo menos 4 anos, desenvolvemos oficinas utilizando nossa metodologia de Orçamento e Direitos e, nesse momento, estamos trabalhando o direito à educação, motivos que levam à evasão, especialmente, no ensino médio e o que xs estudantes têm a dizer sobre as necessárias mudanças na política de educação no ensino regular noturno e no diurno também. Todo pessoal do Darcy está sempre disponível para contribuir e participar, são realmente diferenciados.

Há no calendário da escola uma gincana, precedida de festa com a comunidade. A festa anual foi marcada para 17 de setembro. Resolvi prestigiar o evento e fiquei surpresa com a adesão da comunidade, cerca de 1500 pessoas estavam por lá, dentro e fora da escola. E como acontece em todas as partes, jovens se juntam e alguns utilizam bebidas alcoólicas, o que podia ser visto do lado de fora dos muros, mas nada que não fosse passível de resolução pacífica.

No entanto, como sempre, a força policial desconhece formas de resoluções de conflito pacíficas. Soube que a escola enviou memorando para a Segurança Pública avisando da festa, que poderia ter até 2.000 pessoas, ou seja, sabiam que haveria grande movimento, mas enviaram três policiais apenas. Ao que parece, esses policiais, ao verem tantas pessoas, sem conversar com a direção da escola, ligaram para o Choque, que chegou e sem cerimônia começou a evacuar a área com truculência, usando gás de pimenta entre outros elementos. E não contentes com isso, disseram que se a escola não encerrasse a festa, a direção seria responsável por “qualquer” coisa que acontecesse.

Não restou alternativa, a festa foi encerrada as 19h, ainda no seu início, deixando sobras de comida e frustração de uma confraternização não realizada e ainda finalizada pela força do arbítrio.

O mais interessante, é que estou falando de duas instituições do mesmo governo, uma escola e a polícia militar, que ao invés de atuarem em parceria, atuam como algozes da primeira, como se comunidade escolar fosse um risco à sociedade, especialmente, se estiver cravada na periferia.

Recentemente, o Movimento Nossa Brasília ocupou, com o consentimento do Governo, um posto policial desativado na Estrutural para fazermos um bicicentro. Depois de organizarmos o local, fomos expulsos também pela polícia militar dizendo que não tínhamos autorização para estar no local. Pouco tempo depois o posto foi queimado. Moral da história, o que poderia estar sendo utilizado pela comunidade, para compartilhamento de bicicletas e oficina pública, agora é apenas um amontoado de cinzas e ferros retorcidos que enfeiam a entrada da cidade.

Será que os órgãos públicos, do mesmo governo, não podem dialogar antes de usarem de medidas violentas e antidemocráticas? Não há outros caminhos de conciliação? Facilitando que os bens públicos possam ser utilizados por quem é de direito, ou seja, a sociedade?

Só mais uma coisa, dá para tratar as periferias como se trata o centro?

 

 

Cleo Manhas, integrante do Movimento Nossa Brasília

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