Produzido pelo Movimento Nossa Brasília e Inesc com apoio da Oxfam Brasil, o Mapa das Desigualdades do Distrito Federal foi lançado no último dia 03 de dezembro em um evento que discutiu o Direito à Cidade e as relações Centro-Periferia em Brasília.

Feito em um processo participativo em 3 Regiões Administrativas do Distrito Federal – Estrutural, Samambaia e São Sebastião – nos meses de outubro e novembro, o Mapa tem por objetivo desvelar as desigualdades das cidades e populações periféricas em relação ao Plano Piloto da capital, apresentando uma sistematização diferenciada e acessível dos indicadores oficiais destas regiões. A ideia é que o trabalho possa servir como uma base de dados e informações que fortaleçam e impulsionem uma maior incidência dos movimentos sociais, comunitários e sociedade civil organizada em mobilizações por melhores serviços e políticas públicas para suas cidades.

 


Um pouco sobre o Mapa

O destaque maior da proposta do Mapa das Desigualdades é a utilização da técnica de anamorfose para criar transformações cartográficas na representação do Distrito Federal. Partindo de indicadores locais de determinados recortes (Ex. saúde; educação, etc.), a anamorfose transforma a área das regiões do DF em escala, uma mudança visual baseada em dados locais e relacionada à distribuição de recursos ou políticas de cada Região Administrativa. Com isso, a aplicação da anamorfose nos mapas apresenta distorções nos limites originais de cada uma destas regiões, que passam a ser representadas proporcionalmente às desigualdades dos indicadores que desvelam determinados recursos ou políticas no cartograma. Este modelo rompe com a naturalização das representações de indicadores aplicados em mapas convencionais que pouco explicam disparidades e desigualdades nos territórios.

Cartograma de Saúde - Na imagem é possível visualizar o mapa anamórfico (deformado).

Cartograma de Saúde – Na imagem é possível visualizar o mapa anamórfico (deformado).

Outra novidade é o cálculo desenvolvido pela equipe do Nossa Brasília que foi nomeado de Desigualtômetro. O termo também é utilizado pela Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis em sua plataforma de dados, o que é novo é a forma como se chega aos resultados. Cruzando indicadores temáticos das 3 regiões trabalhadas nas oficinas do Mapa e estabelecendo uma comparação com o Plano Piloto, pôde-se chegar a impressionantes números que apresentam a desigualdade entre as cidades do DF. Por exemplo, estabelecendo o recorte em saúde, a equipe tabulou informações sobre o número de equipamentos de saúde por região, número de especialidades, população que utiliza Postos de Saúde na mesma região onde vive, população que possui Plano de Saúde e chegou a uma taxa de desigualdade que apresenta o Plano Piloto 19 vezes superior em contraste à região Estrutural/SCIA.

As áreas temáticas que referenciaram a produção do Mapa são: Saúde, Educação, Cultura, Mobilidade Urbana, Saneamento básico e Meio Ambiente, Trabalho e Renda e Segurança Pública.

A publicação também apresenta imagens que ilustram estas desigualdades nas cidades trabalhadas. A ideia de fotografar e mostrar as “quebradas” no produto final surgiu em uma das oficinas realizadas na Casa de Paulo Freire em São Sebastião. A equipe responsável pelo trabalho acolheu a ideia e produziu as fotos.

O Mapa das Desigualdades 2016 também traz em suas páginas as letras de 3 canções trabalhadas nas oficinas. As músicas escolhidas abordam a realidade dos locais, denunciando através da arte os processos de exclusão das comunidades periféricas. Em Samambaia, a música escolhida foi “O chafariz”, do rapper e educador popular Markão Aborígine. Em São Sebastião foi a clássica “SOS Periferia”, do grupo Imagem de Rua, e na Estrutural o rap “Na quebrada”, do Visão Realista.

HipHop-MAPA


Centro, Perifa, Direito à Cidade e o Grito das Periferias

Junto ao lançamento do Mapa das Desigualdades, foram realizadas discussões que buscaram aprofundar o processo de ocupação histórica, econômica e cultural do Distrito Federal, assim como se debateu a Agenda Habitat III da ONU e as complexas relações, contradições e possibilidades das localizações Centro e Periferia.  

Nesta programação, participaram organizações comunitárias e movimentos sociais locais, como o Coletivo da Cidade/OCA, o Movimento Passe Livre (MPL) e a Ocupação Cultural Mercado Sul Vive (MSV); convidados/as que colaboraram nas três cidades onde o Mapa realizou oficinas – Aline Côrtes (Levante Popular da Juventude), Newton Pereira (MJPOP) e Paulo Farias (Fórum DCA); convidados/as de fora que contribuíram com a atividade – Kátia Maia (Oxfam Brasil), Zuleica Goulart (Rede Nossa São Paulo) e Rodrigo Iacovini (Instituto Pólis); além dos/as integrantes do Movimento Nossa Brasília que promoveu o evento e participou ativamente na apresentação do Mapa – Júlio Campos e Caio Nunes -, e nos debates que aconteceram no dia, tendo Cleo Manhas na mediação dos momentos e Dyarley Viana em uma das mesas, junto a Nara Oliveira do MSV.

Nara-Dy-CidadesDesiguais

Como não poderia deixar de ser, a arte periférica marcou presença no evento, com o grupo teatral As Bisquetes, da Estrutural, e várias apresentações do Sarau Grito das Periferias, iniciativa que reúne artistas de várias regiões do Distrito Federal.


Baixe a versão 1.2* do MAPA das Desigualdades 2016 em melhor resolução (PDF – 29 MB).

*Nesta versão foi feita a correção do título do Cartograma de Cultura na página 16.


 

Fotos: Webert da Cruz

Share This