GT de Gênero e Sexualidade do Movimento Nossa Brasília lança carta de repúdio em relação à decisão de um juiz federal permitindo a prática da “cura gay”, uma agressão aos Direitos Humanos e que contraria posicionamento do Conselho Federal de Psicologia sobre o tema.
A homoafetividade é uma prática relacional não vinda de hoje. Em grandes impérios e povos antes da era cristã, ela não era mal vista e em diversos casos até incentivada. Grécia Antiga, Roma, China, Índia etc. Na Esparta, por exemplo, em período de guerras, os homens eram incentivados a terem relações sexuais entre si, desde que passavam muito tempo juntos sem contato com outras pessoas, inclusive mulheres. Na Grécia, o prazer e a afetividade de todas as formas eram saudação do deus do vinho, Dionísio. Na Índia, em sua religião predominante, há deuses travestidos e hermafroditos, sendo eles bissexuais em relação às suas sexualidades. E na cultura Hindu, o sexo não tinha apenas a finalidade de reprodução, mas significava prazer e poder. Na cultura judaica, Moisés é o profeta que trouxe ao mundo os dez mandamentos e disse ainda para os homens da terra “crescei e multiplicai-vos”. Daí cria-se uma ideologia de que o sexo apenas servia para a procriação. Sendo assim, o sexo com finalidade prazerosa e a relação homoafetiva são condenados, pois não há o objetivo e nem é possível o ato de reprodução.
O cristianismo é uma religião vinda do judaísmo, cujo tem no centro um mesmo deus. Este é o deus que enviou a Moisés os dez mandamentos e pediu para dizer aos homens que deveriam se multiplicar. A negação da homoafetividade aí também é trazida para a crença cristã. Quem estuda um pouco da história da humanidade sabe desses fatos citados nesta carta, e sabe ainda que a Europa tomou para si essa religião, obrigando a todos que considerassem suas crenças antigas mitos e a seguir uma vigente. Neste mesmo período em que o cristianismo é apropriado, há uma série de invasões dos povos Bárbaros por toda Europa, inclusive do Império Romano. Porém, esses povos tinham temor em relação ao que era do sagrado, ou coisas do tipo. Há estudos que dizem que foi daí que surgiu o empoderamento da religião católica em Roma, devido a não invasão das casas religiosas da época. Desde esse tempo, ser dessa religião significava poder e se relacionava com a política, pois, para eles “ninguém está acima da lei de deus”. Inclusive, durante todo o período da Idade Média, o Clero estava sempre acima da corte. Quem estuda, está ciente também de que o continente que mais explorou e colonizou terras por todo o planeta foi a Europa. O mundo a tinha como centro, inclusive pesquisas científicas (na era Iluminista), sociabilidade, história e cultura deveriam ser modelos europeus e eram considerados “normais”. Outras práticas e culturas se chamavam pagãs e eram condenadas até à morte na Idade das Trevas, e alguns séculos para frente, eram chamadas de exóticas, uma bela fonte de estudos.
O mundo e parte da sua cultura ainda são influenciados pela colonização e empoderamento europeus. Inclusive, ainda hoje existem diversas formas de colonização de países africanos e do Oriente Médio. Mas isso não vem ao caso no momento. Esta carta apresenta esses fatos somente para afirmar que a homoafetividade está na história da humanidade e não é uma “safadeza dos tempos atuais”. É importante salientar também que o nosso país, Brasil, não é originada e nunca foi terra cristã, mas Tupi Guarani, Tupinambá, Kadiwéu entre outros povos que, inclusive, não identificavam um sexo anal entre homens numa caçada ou ritual como uma prática de “homossexuaLISMO” (problematizando o sufixo ISMO, que significa doença, distúrbio, etc). Era comum, inclusive masturbação entre eles, e também entre as mulheres. Com a colonização europeia sobre o Brasil, vários povos, culturas, práticas e religiões foram massacradas e extinguidas de nossas terras e da nossa história como brasileiros. A religião cristã no Brasil entra com esses atos. E afirmamos ainda, que é por isso que o país a tem como predominante que, consequentemente, predomina-se um preconceito e discriminação absurdos com os homoafetivos.
Sentimos muito em dizer que esta resolução do Conselho Federal de Psicologia ( Resolução CFP N° 001/99) não passa de uma consequência histórica e política da humanidade, de opressão e colonização de valores, estéticas e morais alheios, e que tem cunho opressor e de centralização de poder. Queremos deixar bem entendido também que nossa revolta não é com a religião cristã por si, devido a uma série de praticantes que compreendem e aceitam o homossexualismo, mas repudiamos o uso dessa crença para mascarar ódio e opressão.
Falando de amor e de valores humanos, questionamos o porquê de uma afetividade, um gostar ou uma prática sexual com finalidade prazerosa (que deveria ser comum, afinal são práticas humanas) é aniquilada e colocada como doença. Não se pode patologizar um sentimento de amor ou respeito. É desumano! Afirmamos ainda que resistiremos, assim como vários africanos resistiram à escravidão, assim como indígenas resistiram à colonização de suas terras, assim como vários homossexuais que são condenados à morte em vários países do mundo resistem, assim como as e os trans que são mortos diariamente no Brasil, as travestis, os não binários, os bis, os pans, os gays e lésbicas resistem! Essa lei não pode, não deve de forma alguma e não irá passar! Pois somos humanos com caráter, somos únicos e diferentes e não importa com quem devemos ou não nos relacionar afetivamente! Não precisamos de cura, e sim de respeito!
Referência:
http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/1646/1569.